Ásatrú: culto aos ancestrais

Algumas pessoas me perguntam como as antigas tribos escandinavas geralmente praticavam seus cultos. Nem todos eram galdr ou seidr, oráculos bruxos. A honra familiar era um dos pontos (ou talvez o ponto) mais importantes na sociedade dos clãs de origem germânica. Quando digo germânico não cito apenas os alemães continentais, mas também islandeses, suecos, noruegueses, godos, francos, anglo-saxões etc.

Quando se fala em honra familiar, me refiro ao nome dos ancestrais, nomes que foram exaltados por suas habilidades artesãs, de caca, de guerra, de luta, de plantio, curandeirismo. É por isso que vemos em alguns livros as pessoas citarem serem filhas de um pai ou netos de um avô de renome. Sujar este nome era algo considerado uma desonra para a sociedade e uma vergonha para a família.

Também era comum que as famílias fizessem cultos ao redor de pedras e árvores, em locais onde seus familiares estavam enterrados, o que tornava os ancestrais sempre presentes. A esse elo familiar do qual se costuma praticar suas crenças, chamamos de kidred. A religião podia ser considerada até mesmo um ato doméstico, passado aos descendentes, e ressaltavam o caráter da ortopraxia (que nada mais é do que a prática religiosa através de ações e não necessariamente através de fé e somente crenças). Isso é o que difere enormemento o Paganismo do Cristianismo, uma vez que no paganismo a religião é baseada em acão, fórmulas mágicas, insígnias etc.

O grupo familiar, ou kindred, costumava cultuar os espíritos dos mais próximos, e especula-se que este possa ter sido muito mais praticado por algumas tribos do que necessariamente cultuar divindades difundidas nas culturas germânicas. Lembrando que o termo “espírito” nasceu na era cristã, os germânicos também tinham uma noção do espírito um pouco diferente, mais complexa. Antigamente tinha-se consciência da realidade epiritual, e os espíritos eram chamados de vættir (vaett, singular).

Segundo Gunnell (2016), o paganismo não precisa ser considerado ser politeísta, mas também henoteísta, ou seja, cada tribo ou clã (ætt) cultuava apenas uma divindade que poderia estar relacionada com a família ou objetos ou as terras (genius loci). Podiam até mesmo cultuar Freya e uma tribo vizinha cultuar Tyr e isso não gerar problemas.

A visão no Ásatrú é uma visão animista, que vê nas coisas, nos seres animados e inanimados, uma espécie de alma. Por isso era comum árvores, pedras, montanhas serem pontos de acesso e comunicacão com estes vaettir ou ancestrais. E a morte não era vista como uma separacão definitiva, mas sim um modo novo de se relacionar com os que morreram.

Fonte principal: Heljarskinn S. Ættarbók: o culto doméstico para além do Ásatrú.

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