Vocês sabem o quanto eu gosto de ler sobre a cultura Sámi e trazer ela para meus livros. Tive a oportunidade de fazer algumas perguntas a Aina Ravna, uma Sámi que mora aqui em Tromsø. Ela é cientista da área da farmacologia e trabalha perto de mim. Eu queria poder saber um pouco mais da cultura contemporânea desse povo considerado nativo na Escandinávia e que no passado sofreu muito com o preconceito religioso e social e ainda vem superando barreiras como por exemplo, serem reconhecidos como o povo nativo mais antigo da Noruega. Aina também defende o direito do povo Sámi ativamente.
Selecionei algumas perguntas para fazer à Aina. Eu poderia ter feito inúmeras perguntas, mas não quis exagerar nesta primeira entrevista. Então vamos lá:
Paola: Aina, você se considera norueguesa, Sámi ou ambos?
Aina: Eu me considero Sámi.
Paola: Quanto ao folclore Sámi, cite 3 personagens que você acredita serem os mais difundidos na sua cultura nos dias de hoje.
Aina: Os três personagens mais difundidos e citados são Bieggolmai (o deus do clima), Beavvi (o deus Sol) e Ulda/Huldra (a senhora do submundo, das pessoas subterrâneas, ou seja, que vivem abaixo do solo. Eles estão vivos, não mortos. A Uldra é muito bonita e atrai jovens para que fiquem presos nas montanhas.
Paola: Com que frequência você vai aos rituais Sámi? Você poderia descrever um pouco deles para nós?
Aina: Faço rituais em casa e na natureza, principalmente realizando oferendas. Eu ofereço moedas (de preferência moedas de cobre) para pessoas subterrâneas e comida para a natureza (animais, deuses e para as pessoas subterrâneas).
Paola: Se uma pessoa quer aderir à religião Sámi o que precisa fazer? Tem que casar com um Sámi ou isso não é possível?
Aina: A religião Sámi não é uma religião formal, não há igreja ou sociedade religiosa. Hoje temos apenas fragmentos desta religião. Foi proibido acredito que no século 17 praticar a nossa crença, mas hoje é legal. Qualquer um pode praticar a religião Sámi, se desejar. Você pode se juntar à Shaman Society e aprender técnicas lá, mas a prática deles é tanto voltada para a prática Sámi quanto ao xamanismo nórdico.
Paola: Quais divindades os Sámi de hoje mais citam? Praticam rituais com resquícios de práticas católicas?
Aina: A maioria dos Sámi hoje são cristãos/luteranos. Eles foram mais ou menos forçados a se tornarem cristãos. Não sei se existem rituais da igreja católica envolvidas nas práticas sámi atuais.
Paola: Como os ancestrais são vistos pelo povo Sámi? Você poderia falar um pouco sobre a crença do espírito?
Aina: Os ancestrais são importantes na cultura Sámi e estar relacionado a eles também é muito importante. As pessoas Sámi são muito espiritualizadas e também acreditamos na presença de espíritos e fantasmas de nossos ancestrais.
Paola: Como você divide seu tempo como cientista farmacêutica e a religião Sami? Os Sámi se encontram frequentemente para realizar seus ritos?
Aina: Minha prática religiosa está integrada em minha vida. Mas a medicina ocidental e a medicina Sámi são bem diferentes uma da outra. Os Sámi se encontram frequentemente para conversar em voz baixa sobre o que o deus do tempo está fazendo. São discretos.
Paola: Existe algum conceito de maldição ou Mal para o povo Sámi? Você poderia distinguir para nós?
Ravna: Sámis são bem conhecidos por lançar feitiços malignos, mas isso é algo sobre o qual não falamos. Mas você pode olhar assim: se alguém te machuca, você pode devolver o mal para a pessoa que te machucou.
Paola: Você poderia descrever em poucas palavras como os Sámi veem a rena, o lobo, o urso, a aurora boreal, sol, lua, alce.
Aina:
a) rena: considerada trazer boa sorte.
b) lobo: o lobo pode ser um espírito auxiliar, ou o xamã pode se transformar em lobo.
c) urso: é muito sagrado para meu povo.
d) aurora boreal: Deve ser respeitada. Se você assobiar para ela ou acenar com algo branco para ela, a aurora pode descer e capturar você.
e) sol: o sol é sagrado para os Sámi.
f) lua: o ciclo da lua é muito importante. Certas coisas só podem ser feitas em uma lua crescente.
g) alce: O alce provavelmente é sagrado, mas acho que nunca ouvi falar sobre a importância dele para os Sámi, pois há coisas que se perderam no passado. Os Sámi não tinham uma linguagem escrita, e por isso muito conhecimento se perdeu.
Em breve trago mais curiosidades sobre o povo Sámi por aqui em meu site.