As esculturas rupestres podem nos contar muito sobre o passado, sobre o que os anigos povos consideravam importante retratar. Neste artigo vou comentar sobre as imagens escavadas pelos povos antigos que viveram em Jiepmaluoka (ou Hjemmeluft) localizada em Alta, no extremo norte da Noruega. O quartzo é uma rocha tão dura que era possível usá-lo para escavar outras rochas e formar imagens de renas, barcos, peixes, alces, ursos e indivíduos de um clã. Estou falando de esculturas feitas há 3700 anos, sendo que algumas são descritas terem sido feitas há mais de 5700 a.C.
Segundo Arved Sveen em seu livro “Rock Carvins”, Ao longo de toda costa de Finnmark, ou seja, todo o extremo norte da Noruega acima de Tromsø. Durante a Idade da Pedra as pessoas costumavam caçar, pescar e colher vegetais para a sua subsistência. É sabido que estes grupos sociais se tornaram organizados em vários sentidos, tanto religiosos, econômicos e culturais e isso também iria depender se este clã tendia a se mover mais pela costa, como um grupo nômade, ou se preferiam se estabelecer em algum lugar e a defender esta área.
Existe um desacordo entre o povo sámi quando discutem entre si a sua origem. Muitos sámi acreditam que estes poderiam ter sido os seus ancestrais, já que as esculturas rupestres retratam de modo similar inúmeras figuras como as dos xamãs tocando seus tambores, as renas, os ursos etc. Mas há uma parcela sámi que se considera cristã e que não gosta de ser associada a este povo antigo, já que costumam defender que suas origens estão relacionadas com a cristianizacão dos povos nórdicos, portanto, depois de Cristo.
É curioso afirmar, inclusive, que Alta é uma das cidades mais habitadas pelo grupo sámi e este povo é o único que possui o direito de criar renas, pois faz parte de uma tradicão cultural.
Tive a oportunidade de estar no museu de Alta e é impressionante a quantidade de imagens que os povos antigos deixaram e que hoje podem ser vistas e apreciadas. Durante minhas observações, percebi que o alce fêmea acompanhada de seu filhote é um dos emblemas que costumam aparecer na composição escavada, e não encontrei nenhum alce sendo caçado (mas sim ursos e renas).
É possível que o alce tivesse uma importância religiosa para o povo que viveu na região de Jiepmaluokta, uma vez que também retrataram uma pessoa saindo de dentro da barriga de um alce fêmea, além de não terem sido encontrados vestígios de ossadas de alce consumidas por estes povos (o que também é comentado no livro de Sveen).
Lá também havia uma representação esculpida de uma caça ao urso fêmea e seu filhote, durante a estação do inverno, pois até mesmo a toca e as pegadas foram escavadas na ilustração. Representações de cerimônias religiosas também estão presentes, pois é possível ver certos “movimentos” entre as imagens, como mãos dadas, círculos onde envolvem “objetos” que lembram galhos e ligam as pessoas entre si, tambores, martelos, roupas xamânicas com máscaras de ossos e práticas ritualísticas que envolviam também a participacão dos animais.
Uma das coisas mais curiosas das esculturas rupestres em Alta são as dezenas de representações às renas, com padrões escavados diferentes, marcações que as caracterizam individualmente. Questiona-se se esta era uma maneira de diferenciarem as renas umas das outras por seus padrões de cores, ou se estas eram marcas que podiam representar o clã.
Creio que a melhor parte disso tudo é poder caminhar por entre estas rochas e tentar imaginar que os ancestrais nórdicos pisaram aqui antes de nós, antes mesmo dos famosos exploradores vikings. Que eles também sentiram o vento forte ali bater, sentiram o cheiro da terra e da vegetação, comeram ali olhando para o mar e cantaram suas celebrações. Esta é a parte mais divertida da história.