Como os nórdicos interpretavam a existência da alma

Os ur-heathen, ou seja, os antigos povos pagãos germanos (incluindo o povo escandinavo), acreditavam na existência de um espírito composto por diversas camadas e que eram capazes de transitar por realidades distintas.

Dizia-se que um indivíduo nascia com uma sorte (hamingja) que era compartilhada com toda a família, sendo considerado a capacidade que as pessoas tinham de prosperar, o que influenciava a sorte coletiva da tribo. Mas a alma do indivíduo não poderia ser composta apenas de sorte. Dizia-se que o instinto animal (fylgja) funcionava como uma camada da alma onde um acompanhante animal nos influenciava por toda a vida.

Mas e quanto as diferencas pessoais? Em que parte da alma estava a nossa capacidade de pensar sobre o ontem e planejar o futuro? Hugr (memória) e munr (reflexão) são as camadas da alma que possivelmente nos torna capazes de usar a lógica, pensar em solução de problemas e decidir alguma coisa e nos tornarmos um indivíduo. Sim, estes nomes nos lembram Huginn e Muninn, os corvos de Odin. No entanto, do nome Huginn (Pensamento) e Muninn (Memória) provém do old norse, e possivelmente possui alguma relacão com hugr e munr.

Mas de onde vinha a inspiração e o êxtase? Seria ela um resultado dos pensamentos ou ela estaria mais ligada aos sentimentos gerados pelo instinto? Nem um e nem outro. Para os povos germânicos havia uma “camada” da alma chamada oðr. Oðr é responsável por nos oferecer a inspiração para fazer as coisas, a motivação.

Caso você recebesse uma herança, um dote, bem como as suas feições semelhantes ao de seus avós, pais ou tios, era o que chamavam de orthanc: a herança compartilhada por toda a família viva e que já havia morrido, até mesmo o sangue.

O ar que nos anima (önd) e o corpo material (líkr) também são parte da nossa alma. E não bastava toda essa complexidade de “ver” a alma, tão distinta de outras culturas ou religiões, ainda há uma parte dela em que o ættarfylgja, o espírito que acompanha a família e que nos contata ancestralmente, está sempre presente. Este espírito permanece em toda a linhagem, protegendo a herança, mantendo todos os elos unidos, mesmo que não tivemos oportunidade de conhecer um ancestral.

Segundo Sanmark (2017), alguns antropólogos admitem que os ur-heathen reconheciam duas partes do espírito: uma chamada “espírito livre” ou “espírito onírico”, que permanecia ligado ao consciente quando acordado, e ao inconsciente no sono e que permanecia no corpo até que ele fosse desfeito (por isso era necessário enterrar os entes queridos). A outra parte do espírito era chamada “espírito de respiracão” ou “espírito corporal” e que deixava o corpo com o último suspiro, na morte.

Carregamos em nosso ser todo o esforço de todos aqueles que surgiram antes de nós e nos deram origem, desde a primeira bactéria até o que somos hoje.

Fonte: Heljarskinn, Sonne. Ættarbók: o culto doméstico para além da Ásatrú.

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